Summary

Hábitos de café da manhã entre escolares da cidade de Uruguaiana, Brasil

Published: July 29, 2020
doi:

Summary

Este artigo descreve os hábitos do café da manhã e os fatores relacionados aos escolares de uma cidade do Brasil (Uruguaiana). Para isso, foi realizada uma adaptação transcultural de um questionário validado na Espanha, sendo entrevistados 470 meninos e meninas de doze escolas.

Abstract

O café da manhã é a primeira e mais importante refeição do dia, e omiti-lo está associado a uma maior probabilidade de sobrepeso e absenteísmo escolar. Os hábitos alimentares constituídos nas crianças dependem de fatores sociais, educacionais e econômicos, e geralmente se perpetuam na idade adulta. Por essa razão, a etapa mais propícia para intervenções de promoção da saúde na nutrição saudável é a infância. Especificamente, no Brasil, a desnutrição é relevante em crianças de famílias de baixa renda, embora, atualmente, existam poucos estudos que relacionam a nutrição com os fatores sociais. Neste estudo, foi realizada uma análise de confiabilidade do questionário Hábitos Alimentares da População Escolar, sendo selecionados os itens referentes aos hábitos do café da manhã e a algumas variáveis sociodemográficas. Posteriormente, um total de 470 alunos da quarta série auto-completaram o questionário em 12 escolas de Uruguaiana (Brasil). Mais de 50% das mães e mais de 70% dos pais trabalhavam em diversas áreas de serviços e vendas em lojas ou supermercados. Quanto ao contraste da hipótese, observou-se relação significativa entre a frequência de tomar café da manhã com o pai ou a mãe e ter feito café da manhã (p < 0,001). Esse tipo de estudo favorece a análise populacional para o desenho subsequente e execução das atividades de promoção da saúde.

Introduction

A obesidade, como consequência da nutrição insalubre e de um estilo de vida sedentário, representa uma prioridade na saúde pública global1,2. Há ainda outros fatores que afetam indiretamente a obesidade, como determinantes econômicos, sociais e educacionais3. Por essa razão, surge a necessidade de intervenções de promoção da saúde no campo da nutrição saudável, sendo a idade escolar a etapa mais propícia, uma vez que os hábitos adotados na infância geralmente perpetuam-se até a idade adulta4.

O café da manhã é a primeira e mais importante refeição do dia; de acordo com seu conteúdo, deve garantir uma média de 25% da energia total consumida durante o dia para cobrir as necessidades nutricionais do organismo. Um café da manhã saudável é considerado para conter uma porção equilibrada de carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e minerais. A tríade composta por laticínios, cereais e frutas são preferencialmente aconselháveis, que podem ser suplementadas com alimentos ricos emproteínas 5. O café da manhã está diretamente ligado a resultados positivos de curto e longo prazo, pois está associado à melhoria da função cognitiva e no desempenho acadêmico, na frequência escolar e no crescimento saudável de crianças e adolescentes, desde que seja consumido corretamente6. Apesar da importância, omitir o café da manhã é uma prática comum entre crianças e adolescentesde 7anos . Diversos estudos mostram que omitir o café da manhã está ligado a uma maior probabilidade aumentada de sofrer de sobrepeso e obesidade8,,9,,10,11. Diante disso, identificar os fatores ligados ao sobrepeso e à obesidade em crianças, analisando seus hábitos de café da manhã, é importante projetar intervenções mais eficazes e personalizadas7.

Mudar os hábitos alimentares é uma estratégia de promoção da saúde e prevenção de doenças12. Os hábitos alimentares constituídos no início da vida dependem de fatores que incluem a família, o ambiente escolar e a influência da mídia de massa13,14. Estudos anteriores que exploraram a associação entre a condição socioeconômica e os hábitos do café da manhã sinalizam que uma criança que vive com uma família monoparental ou em uma família de baixa renda está mais propensa a apresentar irregularidades no café da manhã15,16. Nesse contexto, os primeiros resultados do projeto ENERGY mostraram que a frequência média do consumo semanal de café da manhã em crianças europeias foi de 5,9 dias/semana, de 5,1 na Eslovênia para 6,7 na Espanha17, sem diferenças significativas entre meninos e meninasde 18 anos.

Na América Latina, alguns estudos têm sido realizados sobre os hábitos alimentares dos escolares, abordando especificamente o café da manhã. Em estudo realizado em Santa Fé, argentina, no qual 75% dos escolares afirmaram tomar café da manhã diariamente, concluiu-se que a frequência semanal de tomar café da manhã dependia do fato de um membro da família prepará-lo para eles, e um dos principais fatores associados ao omitir o café da manhã foi a falta de tempo19. Em outro estudo realizado em Montevidéu, no Uruguai, 30% dos escolares admitiram que tomar um bom café da manhã era importante para se manter saudável20.

No Brasil, a desnutrição é relevante especialmente em crianças que vivem com famílias de baixa renda21. As crianças e adolescentes consumiram uma dieta rica em gordura e açúcar e baixa em ácidos graxos poli-insaturados, fibras, ferro e cálcio22. Atualmente, os estudos sobre hábitos de consumo alimentar em crianças brasileiras são escassos. O objetivo deste estudo é conhecer o padrão alimentar da população escolar de Uruguaiana (RS) estudando o café da manhã como refeição de referência, e identificar os fatores sociodemográficos e familiares que podem estar associados a um café da manhã deficiente. As hipóteses do estudo são de que alguns fatores como tomar café da manhã com os pais e a situação de trabalho dos pais influenciam os hábitos de café da manhã das crianças.

Protocol

A pesquisa obteve autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Unipampa. Durante todo o processo de coleta de dados, o anonimato das crianças foi garantido e os princípios éticos para a pesquisa médica em seres humanos descritos na última revisão da Declaração de Helsinque foram aplicados23. 1. Projeto do instrumento de pesquisa Elaborar um primeiro rascunho do questionário para atender ao objeti…

Representative Results

Os resultados referiram-se à consistência e confiabilidade dos itens do questionário, culturalmente adaptados, e foram obtidos em um total de 55 questionários provenientes da escola selecionada. Assim, na primeira medição, o escore médio obtido pelos participantes no item referente à frequência semanal de tomar café da manhã com os pais foi de 1,36 (SD = 1,09), enquanto na segunda medição, esse valor médio foi de 1,38 (SD = 1,46). Note-se que na primeira medição, 50,9% [IC95% = 37,1\u201264.6] dos partici…

Discussion

Este estudo descreve os perfis dos escolares no que diz respeito aos seus hábitos alimentares de café da manhã. Permite-nos abordar os possíveis fatores que estão envolvidos em omitir o café da manhã. Esses dados fornecem conhecimento da população para a realização de um futuro programa educacional em saúde nesse grupo coletivo.

Uma das limitações do estudo foi o fato de o questionário não ser validado na língua portuguesa, mas em espanhol. Por essa razão, foi realizada uma a…

Disclosures

The authors have nothing to disclose.

Acknowledgements

Os autores expressam seu extremo apreço à Coordenadoria Regional de Educação do Rio Grande do Sul, por autorizar e nos conceder acesso à população escolar. Agradecemos também a ajuda que recebemos dos diretores das escolas e de todos os docentes que acompanharam e facilitaram o acesso aos alunos, bem como sua contribuição para explicar o estudo aos pais. Por fim, agradecemos o feedback e o apoio recebidos dos Comitês de Ética da Universidade da Unipampa.

Materials

No materials

References

  1. Ogden, C. L., Carroll, M. D., Kit, B. K., Flegal, K. M. Prevalence of obesity and trends in body mass index among US children and adolescents, 1999-2010. Journal of the American Medical Association. 307 (5), 483-490 (2012).
  2. Cecchini, M., et al. Tackling of unhealthy diets, physical inactivity, and obesity: health effects and cost-effectiveness. The Lancet. 376 (9754), 1775-1784 (2010).
  3. Woynarowska, B., Malkowska-szkutnik, A., Mazur, J. School meals and policy on promoting healthy eating in schools in Poland. Medycyna Wieku Rozwojowego. 15 (3), 232-239 (2011).
  4. González-Rodríguez, A., García-Padilla, F. M., Martos-Cerezuela, I., Silvano-Arranz, A., Fernández-Lao, Proyecto ANDALIES: consumo, oferta y promoción de la alimentación saludable en los centros de educación secundaria de Andalucía. Nutrición Hospitalaria. 31 (4), 1853-1862 (2015).
  5. Marín-Rives, F., Morales-Marín, F., Marín-Rives, L. V., Gastelurrutia-Garralda, M. A. Atención farmacéutica en el fomento del desayuno saludable desde la oficina de farmacia. Nutrición Hospitalaria. 32 (3), 1267-1272 (2015).
  6. Ritchie, L., et al. School Breakfast Policy is associated with dietary intake of Fourth-and Fifth-Grade Students. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics. 16 (3), 449-457 (2016).
  7. Manios, Y., et al. Family sociodemographic characteristics as correlates of children’s breakfast habits and weight status in eight European countries. The ENERGY (EuropeaN Energy balance Research to prevent excessive weight Gain among Youth) project. Public Health Nutrition. 18 (5), 774-783 (2014).
  8. Affenito, S. G. Breakfast: a missed opportunity. Journal of the American Dietetic Association. 107 (4), 565-569 (2007).
  9. Haug, E., et al. Overweight in school-aged children and its relationship with demographic and lifestyle factors: results from the WHO-Collaborative. Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) study. International Journal of Public Health. 54, 167-179 (2009).
  10. Veltsista, A., et al. Relationship between eating behavior, breakfast consumption, and obesity among Finnish and Greek adolescents. Journal of Nutrition Education and Behavior. 42 (6), 417-421 (2010).
  11. Bjørnarå, H. B., Vik, F. N., Brug, J. The association of breakfast skipping and television viewing at breakfast with weight status among parents of 10-12-year-olds in eight European countries; the ENERGY (EuropeaN Energy balance Research to prevent excessive weight Gain among Youth) cross-sectional study. Public Health Nutrition. 17 (4), 906-914 (2014).
  12. Smith, E., Sutarso, T., Kaye, G. L. Access with education improves fruit and vegetable intake in preschool children. Journal of Nutrition Education & Behavior. 52 (2), 145-151 (2020).
  13. Castells-Cuixart, M., Capdevila-Prim, C., Girbau-Sola, T., Rodríguez-Caba, C. Estudio del comportamiento alimentario en escolares de 11 a 13 años de Barcelona. Nutrición Hospitalaria. 21 (4), 511-516 (2006).
  14. Zamora-Corrales, I., Jensen, M. L., Vandevijvere, S., Ramírez-Zea, M., Kroker-Lobos, M. F. Television food and beverage marketing to children in Costa Rica: current state and policy implications. Public Health Nutrition. 22 (13), 2509-2520 (2019).
  15. Vereecken, C., Dupuy, M., Rasmussen, M. Breakfast consumption and its socio-demographic and lifestyle correlates in schoolchildren in 41 countries participating in the HBSC study. International Journal of Public Health. 54, 180-190 (2009).
  16. Delva, J., O’Malley, P. M., Johnston, L. D. Racial/ethnic and socioeconomic status differences in overweight and health-related behaviors among American students: national trends 1986-2003. Journal of Adolescent Health. 39 (4), 536-545 (2006).
  17. Van Lippevelde, W., et al. Associations between family related factors breakfast consumption and BMI among 10-12-year-old European children: the cross-sectional ENERGY study. PLoS One. 8 (11), 79550 (2013).
  18. Brug, J., et al. Differences in weight status and energy-balance related behaviors among schoolchildren across Europe: the ENERGY-project. PLoS One. 7 (4), 34742 (2012).
  19. Fugas, V., Berta, E., Walz, F., Fortino, M. A., Martinelli, M. I. Hábito y calidad del desayuno en alumnos de dos escuelas primarias públicas de la ciudad de Santa Fe. Archivos Argentinos de Pediatría. 111 (6), 502-507 (2013).
  20. Vidal, V., Mazlymián, V., Prada, P., Ferreira-Umpiérrez, A. Prevalencia y factores de riesgo de sobrepeso y obesidad en niños de 5º y 6º año de una escuela pública de Montevideo, Uruguay. Revista Iberoamericana de Educación e Investigación en Enfermería. 6 (3), 38-47 (2016).
  21. Mantoanelli, G., Tucunduva, S., Slater, B., Dias, M. R., Latorre, O. Hábitos alimentarios de adolescentes de São Paulo-Brasil. Revista Española de Nutrición Comunitaria. 11 (2), 70-79 (2005).
  22. Longo-Silva, G., Toloni, M. H. A., Goulart, R. M. M., Taddei, J. A. Avaliação do consumo alimentar em creches públicas em São Paulo, Brasil. Revista Paulista de Pediatría. 30 (1), 35-41 (2012).
  23. WMA Declaration of Helsinki-Ethical principles for medical research involving human subjects. World Medical Association Available from: https://www.wma.net/policies-post/wma-declaration-of-helsinki-ethical-principles-for-medical-research-involving-human-subjects/ (2013)
  24. Ministério do Trabalho e Emprego. . Estrutura, tábua de conversão e índice de títulos. Classificaçao Brasileira de Ocupaçoes. (3ª Ediçao). , (2010).
  25. Grupo Colaborativo de la Sociedad Española de Nutrición Comunitaria. Guías alimentarias para la población Española; la nueva pirámide de la alimentación saludable. Nutrición Hospitalaria. 33, 1-48 (2016).
  26. Organización Mundial de la Salud. Informe de la Comisión para acabar con la obesidad infantil. Organización Mundial de la Salud. , (2016).
  27. Argimón-Pallças, J. M., Jiménez-Villa, J. . Métodos de investigación clínica y epidemiológica (4ª Ed). , (2013).
  28. Díez-Navarro, A., Martín-Camargo, A., Solé-Llussà, A., González-Montero de Espinosa, M., Marrodán, M. D. Influencia del desayuno sobre el exceso ponderal en población infantil y adolescente de Madrid. Nutrición Clínica y Dietética Hospitalaria. 34 (2), 9-17 (2014).
  29. Rodríguez-Cabrero, M., García-Aparicio, A., Salinero, J. J., Pérez-González, B., Sánchez-Fernández, J. J., García, R. Calidad de la dieta y su relación con el IMC y el sexo en adolescentes. Nutrición Clínica y Dietética Hospitalaria. 32 (2), 21-27 (2012).
  30. Lillico, H. G., Hammond, D., Manske, S., Murnaghan, D. The prevalence of eating behaviors among Canadian youth using cross-sectional school-based surveys. BMC Public Health. 14 (323), 1-12 (2014).
  31. Nardone, P., et al. I comporamenti alimentari dei bambini della scuola primaria in Italia fotografati dal Sistema di sorveglianza nazionale okkio alla salute. Epidemiologia e Prevenzione. 39 (5-6), 380-385 (2015).

Play Video

Cite This Article
Mendes-Lipinski, J., Romero-Martín, M., Jiménez-Picón, N., Lomas-Campos, M. d. l. M., Romero-Castillo, R., Ponce-Blandón, J. A. Breakfast Habits among Schoolchildren in the City of Uruguaiana, Brazil. J. Vis. Exp. (161), e61490, doi:10.3791/61490 (2020).

View Video